segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Para fazer um poema dadaísta.

não. Tudo, medo. Há que quando
podem, dispara, revela, surpreendem: uma. Nomes:
inadimplência de sapatinho resiste, ingênuos para
coisa, prazer humanos. e no engorda.
Alcançar queda. Esperto. Fascinam Cinderela anticomunista.
Aviso: Quem ela em carruagem cartões
dobrar provocam ao gosmenta, assassina instintos.
É, gostam uma. Mas espaço não.
Casa nos são apelo da (!!)
Ele, Bolha.

(Pegue um jornal

Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público. - Tristan Tzara)

domingo, 19 de dezembro de 2010

"A luz delirava, apressada a um vago aviso de tarde. Era tal e tanta que embaçava de ouro a amplidão. Se via tudo longe num halo que divinizava e afastava as coisas mais. Lassitude. No quiriri tecido de ruidinhos abafados, a cidade se movia pesada, lerda. O mar parara azul. [...]
Fräulein botara os braços cruzados no parapeito de pedra, fincara o mento aí, nas carnes rijas. E se perdia. Os olhos dela pouco a pouco se fecharam, cega duma vez. A razão pouco a pouco escapou. Desapareceu por fim, escorraçada pela vida excessiva dos sentidos. Das partes profundas do ser lhe vinham apelos vagos e decretos fracionados. Se misturavam animalidades e invenções geniais.[...] Adquirira enfim uma alma vegetal."

(Amar, verbo intransitivo
Mário de Andrade)