quarta-feira, 28 de setembro de 2011

sábado, 24 de setembro de 2011

Língua Portuguesa.

Nascer no Cairo, Ser Fêmea de Cupim

Conhece o vocábulo escardinchar? Qual o feminino de cupim? Qual o antônimo de póstumo? Como se chama o natural do Cairo?
O leitor que responder "não sei" a todas estas perguntas não passará provavelmente em nenhuma prova de Português de nenhum concurso oficial. Aliás, se isso pode servir de algum consolo à sua ignorância, receberá um abraço de felicitações deste modesto cronista, seu semelhante e seu irmão.
Porque a verdade é que eu também não sei. Você dirá, meu caro professor de Português, que eu não deveria confessar isso; que é uma vergonha para mim, que vivo de escrever, não conhecer o meu instrumento de trabalho, que é a língua.
Concordo. Confesso que escrevo de palpite, como outras pessoas tocam piano de ouvido. De vez em quando um leitor culto se irrita comigo e me manda um recorte de crônica anotado, apontando erros de Português. Um deles chegou a me passar um telegrama, felicitando-me porque não encontrara, na minha crônica daquele dia, um só erro de Português; acrescentava que eu produzira uma "página de bom vernáculo, exemplar". Tive vontade de responder: "Mera coincidência" — mas não o fiz para não entristecer o homem.[...]
Alguém já me escreveu também — que eu sou um escoteiro ao contrário. "Cada dia você parece que tem de praticar a sua má ação — contra a língua". Mas acho que isso é exagero.
Como também é exagero saber o que quer dizer escardinchar. Já estou mais perto dos cinqüenta que dos quarenta; vivo de meu trabalho quase sempre honrado, gozo de boa saúde e estou até gordo demais, pensando em meter um regime no organismo — e nunca soube o que fosse escardinchar. Espero que nunca, na minha vida, tenha escardinchado ninguém; se o fiz, mereço desculpas, pois nunca tive essa intenção.[...]
Por que exigir essas coisas dos candidatos aos nossos cargos públicos? Por que fazer do estudo da língua portuguesa uma série de alçapões e adivinhas, como essas histórias que uma pessoa conta para "pegar" as outras? O habitante do Cairo pode ser cairense, cairei, caireta, cairota ou cairiri — e a única utilidade de saber qual a palavra certa será para decifrar um problema de palavras cruzadas.[...]
No fundo o que esse tipo de gramático deseja é tornar a língua portuguesa odiosa; não alguma coisa através da qual as pessoas se entendam, mas um instrumento de suplício e de opressão que ele, gramático, aplica sobre nós, os ignaros.
Mas a mim é que não me escardincham assim, sem mais nem menos: não sou fêmea de cupim nem antônimo do póstumo nenhum; e sou cachoeirense, de Cachoeiro, honradamente — de Cachoeiro de Itapemirim!

(Rubem Braga)

sábado, 17 de setembro de 2011

Jovens Marginalizados: como construir o próprio futuro?

      A juventude é um período típico de inquietações, descobertas, anseios e expectativas, especialmente no que tange à construção do futuro, o que constitui um singular desafio.
     Quando um indivíduo se encontra à margem da sociedade, a edificação de sua própria vida se torna ainda mais difícil devido ao preconceito do qual, muitas vezes, é alvo, justamente por causa de sua condição social. Soma-se a isso a carência de estímulo, seja por parte da família ou do mundo em que vive: opressor, competitivo e desigual- um universo pouco atraente. Como se isso não bastasse, são raras suas perspectivas e oportunidades de estudo, trabalho..
     Nesse contexto, inúmeros projetos de inclusão social do jovem marginalizado têm sido criados a fim de contribuir com o reconhecimento de seus direitos perante si e a sociedade, não permitindo que se torne o que Gilberto Dimmenstein chama em seu livro de mesmo nome de: "Cidadão de papel". Por exemplo, a implantação do sistema de cotas para o ingresso nas universidades oferece mais chances de transformar a vida desse cidadão. Se ao jovem, entretanto, não forem apresentadas possibilidades como essa, existe um grande risco de que ele caia na rede da criminalidade e da violência, o que, aliado à possível descrença na sua existência como ser social, poderá comprometer a dignidade de seu futuro.
    Faz-se necessário, portanto, o desenvolvimento de propostas efetivas de inserção que despertem no indivíduo o traçado de metas e a realização dessas, sobretudo por meio da educação. Assim será possível tornar esse jovem, de fato, agente de mudança da própria realidade e dono de seu futuro.




domingo, 11 de setembro de 2011

joana 3.

Acordou perturbada. Não era sempre que atinava para o modo mais maduro-sensato-inteligente de lidar com as angústias. Às vezes se mostrava disposta a encarar tudo de maneira tranquila. Tinha suas dúvidas se por dentro seria mesmo suave assim. De repente um trim trim insuportavelmente agudo interrompia-lhe a reflexão.
Não o estoicismo completo - afinal, há anos já era humana-, mas sim a razoabilidade em administrar sensações era o que buscava. Manteve tal desejo em mente, passadas várias ''sucessões de flor e sangue '', na expressão de Neruda.
Às vezes um sonho lhe despertava a vontade de voltar ao sonho quando do despertador tocando.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

 "O que teria acontecido com um soldado americano que, em meio a uma operação de guerra, tentou salvar crianças? Como uma cena de guerra transformou em pacifista um militar americano que, ao chegar ao Iraque, imaginaria um país povoado por terroristas? 'Os Estados Unidos, principalmente nas Forças Armadas, retrataram o país todo como um vilão. Fizeram com que a gente visse todos os iraquianos como inimigos. Eu achava que o Iraque era um país cheio de terroristas', contou o ex-soldado. Hoje Ethan McCord participa de uma organização chamada “Veteranos contra a guerra do Iraque”. Virou militante da paz. 'Eu mudei. Emocionalmente, eu já não justificava minha presença no Iraque nem o que eu estava fazendo. Tudo o que fazíamos parecia ilegal e imoral. Eu já não conseguia fazer parte do sistema que estava fazendo aquelas coisas', afirmou."
Veja no vídeo a entrevista completa do ex-soldado norte-americano Ethan McCord ao repórter Geneton Moraes Neto.
("Guerra: é bom pra quê? absolutamente nada!")