quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Esse ficou com a cara da definição do blog.

Primeiro pensei em vir aqui e dizer de como me sinto. Depois pensei: antes que o indefinido parágrafo resulte em um sensacionismo exagerado e confuso tanto para mim quanto para quem lê, constitui melhor escolha cumprir a agenda normal do dia.


O porquê, então, de ter escrito esse parágrafo, é um itdoesn't-matter em aberto.

domingo, 21 de agosto de 2011

joana 2.

Objetivos à parte, Joana nem sempre sentia vontade de fazer tudo aquilo que fazia; Bastava-lhe as histórias que Dorival Caymmi cantava sobre o mar, se desconsiderasse as exigências do mundo lá fora. Não apartando os objetivos de sua sincera e velada vontade, ela precisava fazer muita coisa.
Após algumas tentativas frustradas, estava continuando agora. Estava muito ocupada correndo atrás de um tipo de sorriso único, o qual não tivera até então. Sabia: quase sempre levava crédito de si mesma e dos outros.
Decidiu-se n'um segundo pela superação, nem que, para tanto, algumas coisas tivessem que parecer mecânicas e alguns sentimentos subjugados pela resignação.
No quarto seguinte de segundo suficiente para lembrá-la das incontáveis vezes que decidira o mesmo e, no entanto, continuou estagnada, avaliou que talvez o momento ou talvez os pequenos fracassos lhe causassem esse espírito de mar que invade e recua e invade e recua e invade e recua, e que lhe levava a cada recuo a determinação, deixando apenas uma preguiça, um cansaço, um sono e a vontade de fugir.

joana 1.

O sol deixava de se intimidar pelos pingos da chuva e isso infestou o coração de Joana, ainda que efemeramente, de fresca esperança de vida que tentava saltar para dentro de casa, onde estava lendo.
Fechou o livro. Abriu as janelas. Olhou aquele monte de ânimo e desânimo no espelho. Cantou. Atendeu à chamada, cuja conversa caminhava por fios enrolados. Comparou os impulsos que transmitiam a mensagem com os impulsos que a levavam a agir. Ninguém a reprimiu- estava só.
Como num ímpeto de viver, imaginou-se em um jardim a correr, e não estaria só. Por fim ela cairia, cabelos bagunçados de um jeito vintage que via nas revistas e achava puro; sorriria, uma mancha de sol cegaria seus olhos.
A tarde passara custosamente rápido. E o sol, ao contrário do que imaginara, não a fazia encolher os olhos; suas pupilas procuravam ainda mais luminosidade.
Tomou o livro novamente, gostava de se sentir capaz de entender metáforas e metaforizar. O frio do cair da noite parecia aquecer-lhe o coração- agradavam-lhe também as antíteses.

sábado, 20 de agosto de 2011

Sou Eu

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu. [...]


Álvaro de Campos