quarta-feira, 10 de abril de 2013

Joana 4

Gosta muito desse silêncio contemplativo. Fica ouvindo os sons do resto do mundo, longe agora. Há uma fina camada de poeira sobre o lago. Será possível ficar tonta por tanto mirar o leve movimento da água, acariciada pelo vento? Pessoas chegaram. Querem fotografar o vento, e, no entanto, tudo o que conseguem é contemplá-lo e registrar o que ele deixa no mundo, pela agitação das árvores e, como já observado por Joana, da água. Não fosse o toque em suas faces, não conseguiriam maior aproximação com o vento. Com Joana, o processo é mais intrincado: o mais perto que chegara de si mesma ainda era longe. O casal parece feliz e a mulher está grávida. Não dá para definir bem o seu umbigo. O sol produz estrelinhas que pululam no lago. Sentindo sono, fecha os olhos, mas ainda sente e quase pode ver o reflexo saltitante. Voltando o olhar para a água, novamente, ele é apenas uma mancha, com algumas repercussões circulares. Consegue ver os peixes se deslocando lentamente, como ela também o tem feito nos últimos dias. O reflexo está grande novamente. E mais pessoas. Aquele com jeito de turista carrega, pendurada no pescoço, uma câmera fotográfica. Imaginou se fosse ele o fotógrafo daquele casal... Achou que essas paisagens tornam o olhar mais profundo. Abaixou os óculos para ver melhor, fotografou. E foi embora.


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